The Purge Omnya

The Purge & Omnya – Review

No passado dia 8 tive a oportunidade de poder estar presente em mais um excelente evento da Hard Dance Portugal. Como habitual a organização brindou-nos com uma produção de qualidade que ajudou a tornar a experiência memorável. Nesta festa, a Hard Dance Portugal voltou a apoiar-se do Naada, um nome certamente familiar para quem já acompanha a organização há algum tempo. A mítica Legacy, que contou com o D-Sturb como cabeça de cartaz em 2020, foi no antigo espaço do Naada – o Nada Temple em Xabregas. Desde então, a gerência mudou de nome, e de localização para o Prior Velho, e foi neste novo espaço que a organização voltou a apostar, depois de lá ter feito a Khaotik Lisboa. Esta nova sala é, digamos… interessante. Também não referi o evento que é tido por muitos como o melhor de sempre ao acaso nesta introdução, pois o ambiente desta última festa foi… especial. Mais sobre isto adiante neste blog…

Começando pelo início – parti em direcção a Lisboa julgando seriamente que seria uma das últimas vezes que iria a uma festa da HDP. Nem a belissima viagem pela linha do Norte, a bordo do meu predilecto Alfa Pendular, nem o nervoso miudinho saudável que sempre me acompanha para as festas da comunidade em antecipação das mesmas, conseguiram dissipar a pequena nuvem negra que pairava na minha mente nos dias anteriores ao evento.

Promover festas deste tipo é caro. Muito caro. E é complicado ter retorno do investimento. A HDP tem lutado muito para conseguir sobreviver numa altura em que parte da comunidade parece ter-se desligado da missão do promotor, e tem recorrido a outro tipo de público para tentar fazer algum sentido da parte financeira da coisa. Ter ouvido de um passarinho que a venda de bilhetes não estava grande coisa fez-me novamente temer o pior, e foi com este estado de espírito que ia a caminho de Lisboa.

Posto isto, e para minha grande surpresa, no próprio dia é anunciado que o The Purge iria ter de cancelar a actuação. Aparentemente o artista passou por uma situação algo insólita em Schiphol, ao tentar embarcar no avião para Lisboa. Passado o choque inicial (ele era um de dois artistas que queria muito ver essa noite), esse facto contribuiu para inchar um pouco essa nuvem cinzenta que ja pairava no ar, no que metaforicamente até era um dia relativamente solarengo na minha cabeça (só metaforicamente, pois nesse dia chovia a potes quer no meu ponto de partida, quer no de chegada!)

Porém, nem tudo estava perdido… Para o bem e para o mal o cartel do Hard Dance existe, e não foi dificil à Platinum recorrer a uma agência do mesmo grupo para fazer o envio expresso de um nome emergente do Hardstyle, o Sanctuary, bem conhecido por ser um integrante do mais famoso esquadrão selvagem

Para contexto, este é o cartel. Todas estas agências estão afetas à ID&T. A larga maioria dos grandes acts estão sob as mesmas, assim como muitos newcomers emergentes

Ainda melhor que isso, eis a notícia que dissipa todas as minhas nuvens negras – a Platinum “ofereceu” disponibilidade do nosso amigo Manuel para Maio! 2 em 1 – nem tudo está perdido quanto a uma continuação da Hard Dance Portugal nos moldes em que os conhecemos, nem vamos perder a hipotese de ver o The Purge em terras lusas.

Já mais bem disposto, chego a Lisboa, deposito as minhas tralhas no hotel (aproveitei para ficar e visitar alguém que estimo muito), junto-me a alguns dos meus fieis amigos weekend warriors, dos quais não dispenso a companhia quer no Defqon, quer nas festas por cá, jantamos e seguimos para a festa.

Ao chegar à rua do Naada, foi inicialmente dificil identificar a venue. Depois de nos certificarmos pelos mapas que estavamos no sitio certo, lá seguimos por entre uns armazéns até a uma porta que mais parecia de um local abandonado, não fosse a segurança à porta… Passado a segurança tranquila, somos levados por um corredor minusculo (um upgrade considerável ao elevador do espaço anterior…) que depois nos leva a uma sala… estranha, com arte bastante fora da caixa nas paredes, um bar ao canto, e até um tatuador de serviço. Tem também sofás, algo que é muito bem vindo!

Uma pessoa ainda fica meio na dúvida ao chegar lá, até porque o Google aponta para este primeiro edifício à direita, mas sim, é lá ao fundo desta rua paralela…

Mas o melhor ainda está para vir, pois atentem só… a pièce de résistance do espaço é claramente uma espécie de cortinas feitas de tiras de PVC, caindo do tecto, tal e qual um matadouro, a separar a zona da pista de dança da zona do bar!

Ultrapassada esta questão do novo Naada ser um espaço completamente unhinged, temos uma pista de dança larga, um tecto alto que facilita a circulação de ar nos momentos de maior energia do público, uma cabine modesta mas bem equipada e som montado pela HDP que era bastante satisfatório, apesar de lhe faltar algum fôlego nas frequências altas. Já o bass, que é por norma a minha razão de queixa número um nas casas que visito, pareceu-me relativamente bem equilibrado e não se sobrepunha de forma louca a todas as outras frequências, que é o típico de casas deste género em Portugal. A organização montou também luzes, que estavam bem, mas às quais pessoalmente não ligo nenhum.

Costumo tirar várias fotos, porém por algum motivo neste evento não o fiz…

Quando entrei estava a Chira a fechar a sua actuação. Outra coisa pela qual não tenho o menor interesse é toda esta nova sensação que é sets de “Techno” que afinal são Hard Dance, que começa lentamente a ganhar a denominção chique de “neorave”, daí ter falhado os dois primeiros sets. Já falei sobre o assunto inúmeras vezes, inclusivé aqui neste espaço, e não quero tornar esta review em algo sombrio, pelo que vou resumir de forma sucinta e concreta a minha opinião sobre esta questão: compreendo que a organização tem de se socorrer de outros públicos na ausência do nosso, e estes “neoravistas” são alvos fáceis por cairem em qualquer esparrela de marketing que retrate um evento como sendo algo edgy e cool. Este publico parece ter nascido num berço de ouro que lhes permite atirar dinheiro a bilhetes tal e qual um bilionário a atirar notas num qualquer superclub em Las Vegas, e corre em massa para eventos onde se passa música da qual falam mal se tocada noutro ambiente e contexto. Espero sinceramente que explorar este publico seja extremamente rentável para a organização, e que a artista que referi tenha o maior dos sucessos por ser agenciada pela própria HDP, mas da minha parte, eu não me sento numa mesa onde não se serve respeito, portanto não marco presença em sets deste tipo… Adiante!

Ambiente à chegada…

Entro no espaço da pista para ver o mestre Alex T, que é o segundo de dois artistas que queria muito ver nessa noite, e ele obviamente não desapontou! Este artista é caracterizado por sets com muita energia, e este foi mais um, onde passou de tudo um pouco do melódico ao ‘raw’, com uma passagem por alguns clássicos que fizeram as delicias do público mais experiente nestas andanças. Não faltou espaço para faixas como Lost In Paradise, Times Gettin’ Hard, ou até mesmo a Just Do It do Delete, nem para artistas tão variados como Headhunterz, Sickmode ou Collusion. Não podiam também faltar as suas colaborações com o Louis, Radivmbvrst e também uma nova faixa a solo do Thom Hartz, tudo produtores da comunidade! O Alex fez um set perfeitamente adequado ao seu slot e deixou o público pronto para o que se ia seguir…

No final desta actuação o nosso Kaiser-T pegou no microfone para anunciar uma mudança de planos – Sanctuary e Omnya iam combinar os seus tempos de actuações num gigantesco b2b inédito! 2,5 horas de loucura onde houve lugar para tudo um pouco. A maior parte do tempo foi no registo habitual que se espera destes artistas, a passar muitas produções próprias, e também do headliner que faltou. Além disso, houve espaço para classicos, como um remix da Get Hit, a Renegades e a Our Church, algo que ajudou a manter o set variado. Os artistas equilibraram também o set socorrendo-se de faixas mais mainstream, como produções do Adjuzt, Aversion e Vertile, incluindo a famosa Activation, o The Purge & Adjuzt bootleg da L’Amour Toujours duas vezes (numa delas com o pai do Omnya a acabar na cabine!), e um bootleg da Titanium. No final de contas os artistas já se estavam a divertir tanto como o público! Nós a delirar com a tracklist com que eles nos presentearam, e eles a delirar com o quão responsivos eramos nas melodias. A única coisa que pessoalmente não apreciei tanto foi a última meia hora do set. A dada altura o registo começou a ficar um pouco repetitivo, e os artistas terminaram com Uptempo… Creio que a maior parte do público adorou este encerramento, mas pra mim foi um final bastante insosso. Houve alguns serrotes, mas pelo menos não foi um encerramento como alguns sets que há no Yellow, onde só se ouve white noise distorcido…

Acho que apesar de claramente termos um público dividido, os “nossos” estavam lá em força e houve uma altura durante este set que senti um pouco aquilo que sentia pré-pandemia nas nossas festas. Aquele feeling de comunidade estava bem presente, especialmente quando a meio deste set calhou de se juntar, atrás da cabine, muita malta que já está na comunidade há muito tempo. Já sentia saudades daquele sentimento de camaradagem durante sessões de klaplong e de mandar fist bumps com esta malta que bem conheço destas andanças há muitos anos… Fez-me precisamente lembrar aquela famosa Legacy com o D-Sturb, no antigo espaço do Nada Temple…

No final, e já com os artistas bem regados e super bem dispostos, houve uma sessão de fotos!

Acho que o meu sorriso depois deste set diz tudo…

Terminamos logo de seguida com Radivmbvrst. Achei-os muito nervosos a principio, por alguns instantes no começo pareciam não estar em sintonia com o equipamento, e o publico também não parecia estar a aderir às faixas que tinham preparadas. Do meio para a frente a execução foi muito melhor e penso terem acabado o set em grande! Estão de parabéns pela recuperação que fizeram.

Findo isto, passamos à afterparty, que se iniciou com o nosso bem conhecido Gigaheartz. A esta hora já era bastante tarde (ou bem cedo, depdendendo da perspectiva), pelo que vi apenas o começo do set, que foi óptimo, e depois vim embora.

Em suma, foi um excelente evento, um dos melhores da HDP em que já estive, e provavelmente entra no meu top 3, junto com a Boat Party e a Legacy. Acho que houve apenas dois pontos menos bons…

O primeiro diria que foi a festa ter parecido curta. É irónico dizer isto no que provavelmente foi a festa mais longa da HDP em termos de horas. No entanto, a programação para os verdadeiros fãs de Hard Dance, sem contar com a afterparty, era relativamente diminuta. Foi pena termos um artista de Hard Techno (a sério) a abrir a festa, decerto teve de adaptar-se ao seu slot e à hype do “neorave” para poder tocar… de seguida mais um set de “neorave” e assim se esfumaram duas horas que podiam ter sido, por exemplo, ocupadas com um set de classicos (do qual senti imensa falta) e um set mais melódico. Seria óptimo ter tido, por exemplo, o Louis nesse 2º slot. Ele é provavelmente o artista mais relevante da nossa scene de momento, e está a gozar de muito sucesso na sua carreira, com duas faixas já lançadas na Dirty Workz.

O segundo diria que foi mesmo parte do público, e tive mesmo algumas situações insolitas com algumas pessoas que claramente tinham caído ali de paraquedas… Uma delas foi alguém que me perguntou onde iria postar os vídeos da festa, e quando indiquei a página do Hardstyle Portugal, essa pessoa não fazia a menor ideia da existencia da mesma… Isso foi estranhissimo para mim. Outra foi a jovem com o outfit estranhissimo que a dada altura se dirigiu a mim. Nada contra, compreendo que esta nova scene tem uma maneira específica e muito individual de se apresentar e comportar, como nós próprios também temos, mas fiquei novamente com a desconfortavel sensação que havia ali muita gente que não tem absolutamente nada a ver com o nosso publico habitual… por breves instantes deixei de me sentir em casa. Outra foi o publico estranho que apareceu para a afterparty, mas quanto a isso, nada a fazer! Faz parte da noite haver alguns odd balls de vez em quando…

Em suma, daria um solido 8/10 a esta festa! Diverti-me imenso, e mesmo com o headliner principal a faltar, foi possível fazer um festão incrível, com um set especial muito exclusivo… Fico ansioso que chegue Maio!